Uma odisseia eletrônica
Poucos filmes podem ser chamados de “a frente de seu tempo”, o que geralmente denomina esse fator é capacidade, em alguns níveis, de ser tão inovador e pensar mais no futuro da humanidade, propondo uma série de evoluções conceituais do que necessariamente se preocupando em contar uma história e um produto audiovisual somente usando recursos e técnicas no seu tempo, creio que Tron: Uma Odisseia Eletrônica, um filme oitentista que já queria contar, num mundo que mal a internet e o mundo digital tinha se tornado algo tão banal que cabe literalmente num relógio, uma história sobre matrizes de computadores, videogames de última geração e o conflito que poderia ser gerado por inteligência artificial, algo que não era a realidade no ano que o filme foi concebido, mas que agora, século XXI é mais do que a realidade, é a hiperrealidade, é a rede social que projetamos um eu que muita das vezes, não existe, são os algoritmos que tornam alguém relevante e a indústria, que sempre máquina querendo tirar o máximo de dinheiro disso.
Assim vamos para a sua sequência, o filme em questão, Tron Legacy, um filme que depois de mais de 25 anos, conta a continuação da história, o filme é inovador como o primeiro? Essa é uma discussão a ser aprofundada, mas, garanto que muitas das coisas que vemos aqui, influenciaram o cinema até os dias atuais.
Na trama, temos a história de Kevi Fllyn, vivido de forma brilhante por Jeff Bridges, um lendário designer de games que cria um mundo digital, o “Grid”, que só pode ser acessado através de comandos de computador, fazendo seu “usuario” se transportar até o me digital, quando ele está prestes a desenvolver esse mundo num lugar melhor, ele desaparece misteriosamente, deixando apenas o seu filho Sam Fllyn (Garrett Hedlund) como seu herdeiro.
Os anos se passam, uma misteriosa mensagem é deixada para Sam e ele precisa entrar no Grid para saber o que de fato aconteceu com seu pai.
É complicado explicar a história de Tron, para se ter uma noção, são conceitos e tramas tão boas, porém, que o filme parece não querer desenvolver direito, mas que criam um universo tão rico, que é uma pena que vão demorar tanto tempo pra fazer uma sequência disso (Tron: Ares, sequência desse filme, está marcada somente pra 2025, 15 anos depois!), é uma construção de mundo maravilhosa que vemos aqui, não só na parte de lore, diferente de outros filmes, esse não perde muito tempo na parte na mundo real, na verdade, creio que é algo, de novo, tão rico, que é uma pena que não tem aprofundamento, a trama envolvendo a ENCOM, empresa criada por Kevin e seu amigo Alan Bradley (Bruce Boxleitner, que também faz a voz original do personagem Tron, aliás, é muito mal utilizado pelo roteiro) ganha contornos tão atuais, tem até uma frase que envolve uma pergunta sobre o por que do número de um produto que é sensacional, é o que vemos hoje em dia, produtos que não evoluem nada, má é só colocar uma ideia de sequência, que todo mundo quer comprar, tem até uma ponta de Cillyan Murphy (como o mundo da voltas), mas que aparece pouco, o foco é entrar no Grid, mesmo que com isso, atropele um pouco o desenvolvimento do personagem Sam Fllyn, o qual gosto, é interessante o quanto o personagem passa de alguém que não leva nada a sério no mundo real, pois sabe que é só pagar paras as coisas acontecerem, para um personagem que parece pouquíssimo confortável no Grid, pois percebe que o perigo é real, é uma dicotomia interessante que o roteiro cria, justamente para o público também levar a sério essa parte digital, fugindo do típico arquétipo do herói que não tem medo de nada e passa a trama toda dando risada, mesmo que a situação seja muito séria, na verdade, acho que o personagem é muito mal interpretado pela crítica, ele na realidade não é o protagonista de fato, esse papel cabe a Jeff Bridges, ele é o que aparece primeiro e até nos momentos que antecedem seu ressurgimento em tela, depois de um longo hiato que o filme dá, é como se tudo envolvendo ele fizesse a trama se mover, mesmo que ele necessariamente não faça isso, além de ser o personagem que mais evolue na trama, percebendo isso, se cria uma nova ótica para o filme, acho fantástica também todo o aspecto de deidade que o personagem tem, é criador que basicamente queria criar um mundo tão perfeito, que confiou numa IA a sua imagem e semelhança, que basicamente percebeu que a única forma de tentar tornar algo perfeito é erradicado toda a imperfeição, é um conceito fantástico que cria o personagem CLUE, que também é interpretado por Bridges, num vilão tão complexo e cheio de camadas.
Mas pra mim, a personagem que mais se destaca é Cora, vivida pela magistral Olívia Wilde, a performance que consegue dosar a inocência de um ser que nasceu a pouco tempo e as habilidades de uma guerreira é muito interessante, por mais que o filme a coloque como donzela a ser resgatada algumas vezes, o filme acerta muito no tom da personagem, a cena final, que ela finalmente vê o por do sol é muito bonita, por mais que geralmente seja um clichê, a construção do roteiro faz algo muito interessante.
Agora, se eu não falasse de dois tópicos aqui, eu não sairia feliz, o primeiro, sendo os efeitos especiais, pqp, é muito difícil ver um filme que tenha saído esse ano ainda, com efeitos especiais e visuais tão bons e lapidados, o diretor Joseph Kosinski conseguiu algo bem a frente de seu tempo nesse quesito, porém, preciso falar do elefante na sala, o rejuvenescimento digital de Jeff Bridges, o personagem parece meio de borracha, mas era algo necessário para evolução que temos hoje, foi algo que a equipe de efeitos foi corajosa de fazer, eles tentam disfarçar em alguns momentos, mas acredito que não é algo que distraia tanto quanto se falam, agora falando de composição de cenários, toda a direção de arte e composição de cenários é belíssima e muito criativa.
A segunda, evolve a parte sonora do filme, tanto a edição e captação de sons desse filme são uma aula, mas a parte que mais se destaca é a trilha sonora criada pela dupla Daft Punk, não é só por ser fã dos dois, mas faixas como “Solar Sailer” “End of line”, “The Grid”, “End Titles”, "Overture" e entre outras são literalmente obras primas do synthwave e influênciaram muito do que veio depois.
Tron Legacy é um filme fantástico, a ação do filme é muito boa, a parte de design, sonora e técnica são níveis acima de muita produção top de Hollywood hoje em dia, porém, o roteiro é um pouco atropelado em alguns momentos, mas nada disso tira o fato do filme ser fantástico.
Nota: 8.5/10.
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