Something in the way...
O que fazer quando um personagem, em mais de 80 anos de existência, já foi adaptado para todas as mídias, das formas mais diferentes possíveis? BATMAN, criação de Bob Kane e Bill Finger, talvez seja o personagem com maior número de adaptaçoes cinematográficas na história, o personagem Bruce Wayne, um órfão bilionário de Gotham City, que luta contra o crime em busca de uma cruzada pessoal contra um submundo da sociedade, que acabou, de uma certa forma, sendo responsável pelo assassinato cruel dos seus pais em um beco, após de saírem de uma peça teatral, filme... Seja lá em qual adaptação que for, que torna Bruce num playboy, cheio de demônios internos e que tenta, externamente, resolver suas frustrações fazendo moedor de criminosos, sem os matar (depende só se combinar com Tim Burton ou Zack "Sneydeus").
Em The Batman, o diretor Matt Reeves recebe o desafio de realizar mais uma versão do cruzador encapuzado, em um oceano de filmes de heróis, com versões consagradas (e outra controversas) e destaca justamente por tentar fugir, de todos os clichês e pontos que as outras versões do morcegão nao exploraram. Seu Batman, quase emo como Bruce Wayne e um detetive como o mascarado, que aqui é chamado de "Vingança" durante boa parte da rodagem, ganha um tom de um filme noir, soturno, que só ganha esse patamar por conta da fotografia sublime de Greg Fraser, que dá a imersão e a escuridão que um filme tão intimista e tenso como esse precisava, Gotham nunca pareceu, nas grandes tela, a cidade suja, antiga e cheia de podridão na sociedade, como é nos quadrinhos, como é agora nessa versão e isso se alastra para toda a história e contrução de mundo.
Atuando por mais de dois anos como o vigilante mascarado conhecido como "Vingança", Bruce Wayne (Robert Pattinson, que bota pra m... Digo, que cala a boca dos críticos de seu trabalho aqui) se vê numa cruzada pessoal contra um terrorista conhecido como Charada (Paul Dano), enquanto luta contra a corrupção de Gotham City, ajudado pelo Tenente Jim Gordon (Jeffrey Wright) e por Selina Kyle (Zoe Kravitz), uma ladra nenhum pouco confiavel. A história é simples e objetiva, que ganha ares investigativos graças a visão de Reeves para o personagem, porém esse não é o ponto principal, pela primeira vez, vemos um filme que de fato a persona Batman/ Bruce Wayne é o ponto focal, a trama gira ao redor do personagem e ele é o responsável pelo desenrolar da trama, com suas ações e reações, um belo trabalho de escrita da dupla Matt Reeves e Peter Craig, que consegue, em esparsos voice overs, dar o tom da trama, onde vemos e sentimos como a mente do atormentado Bruce Wayne funciona. O roteiro e direção estão no ponto, mas tudo cairia se atuação não fosse competênte e aqui temos atuações muito boa de todos os envolvidos, com destaque para Pattinson, que faz o Batman mais atormentado psicológicamente que o cinema já viu, algo que parece que vem sendo a marca do ator nos últimos anos, Jeffrey Wright está no ponto como o futuro comissário Gordon, sendo a voz da consciência que o personagem precisa, Zoe Kravitz, Paul Dano e Collin Farrel (debaixo de uma maquiagem carregada para transforma lo no Pinguim) estão muito bem e merecem um certo tipo de destaque, para citar os mais recorrentes, algo que achei estranho foi a quase exclusão total do fiel amigo do morcegão, Alfred Pennyworth, vivido aqui por Andy Serkis, não sei se a agenda do mesmo para dirigir Venon 2 atrapalhou em alguma coisa, mas sinto que as cenas (poucas) que o mesmo aparece são muito boas e me deixam realmente motivado a querer mais dele na sequência, é um Alfred diferente para um Bruce diferente...
The Batman surpreende ao tentar inovar com um personagem que já ronda o mundo das adaptações a mais de 60 anos, do seu jeito e do seu tom, sombrio, minimalista e realista, Matt Reeves da o ar que a franquia precisava, espero só que a DC enxergue isso e deixe o cara fazer o trabalho dele, queremos o Batman numa menos bagunçada versão da Liga da Justiça, mas adoro saber que, assim como o personagem funcionou dos mais diversos jeitos, podemos ter mais de um Batman simultaneamente, aliás, nós quadrinhos sempre foi assim, o Morcegão de Gotham é extremamente diferente (e mais apelão) quando está na Liga, pois as duas propostas não casam entre si.
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