A auto destruição do ser humano
1945, após inúmeras mortes e genocídios causados pelo Terceiro Reich, os aliados finalmente conseguiram a rendição do povo alemão, que junto com a Itália Fascista, formavam a frente europeia da segunda guerra mundial, porém, ainda existia um foco de combate no globo, o Pacífico, como ficou conhecida a parte do conflito travada quase que exclusivamente entre Japão e Estados Unidos, provocado após o incidente de Pearl Habbor, que desencadeou a entrada americana na guerra. O povo japonês, conhecido por seu orgulho nacional e por sua valentia, não iria se dar por vencido e contra todas as estimativas, continuou o conflito, demandando um grande esforço de guerra dos aliados, com milhares de mortes ainda ocorrendo, porém, no deserto de Los Alamos, existia um plano genial e a mesmo tempo nefasto, de controlar o átomo, a ponto de a fisao nuclear proporcionar uma explosão de níveis catastróficos, o qual era chamada de bomba nuclear, dito isso, o que fazer numa situação dessas? Mandar milhões de pessoas do seu próprio povo para morrer em anos de guerra continua ou simplesmente lançar duas bombas em cidades japonesas e criar um medo tão grande ao ponto de alcançar a paz via rendição?
Fiz essa grande introdução pois esse tópico elucida exatamente do que o filme se trata, em linhas gerais, Christopher Nolan (Trilogia Batman, Origem, Interstelar) nos propõe uma análise sobre o que de fato é o ser humano, um ser complexo, cheio de maneirismos e que pode ser capaz de realizar feitos geniais, nunca antes feitos na história, como também, alguém capaz de fazer as maiores barbáries, nisso, ele coloca o personagem título, o físico J Robert Oppenheimer (Cylian Murphy) como essa grande "carroagem" que carrega o filme e suas temáticas, é interessante que o filme não trata somente das grandes revoluções na ciência que o personagem capaneou, mas também de sua psiquê, controvérsias e de sua humanidade, é um grande trabalho de roteiro realizado pelo filme e um excelente de atuação de Cylian Murphy, que era um ator que apos "O Extermínio", um ótimo filme de zumbi inglês, muitos achavam que seria alguém que estaria nos holofotes, mas isso demorou a acontecer, ja que durante muito tempo, foi um coadjuvante de luxo de muitos filmes, porém, seu papel na aclamada série "Peaky Blinders", o rendeu a fama que vemos no dia de hoje, ele de fato carrega o filme nas costas, não que o elenco de apoio seja ruim, muito longe disso e ja falaremos sobre daqui a pouco, mas o foco do filme, exceto pelas transições em preto e branco com o personagem Lewis Strauss (Robert Downey Jr), está totalmente nele, isso se deve pelo filme ser uma adaptação de um livro, O Prometeu americano, que assim como alusão do personagem grego, que dá o fogo aos homens, para ser castigado pelos deuses, nos vemos justamente essa alegoria se tornar realidade, o fazendo se sentir culpado também, pelo grau de destruição que sua criação foi capaz de fazer. O filme tem uma divisão clara em uma trama de investigação, com um comitê investigando Oppenheimer, enquanto vemos as ações do mesmo em tela, de forma linear, conforme são confrontadas na investigação.
Vemos pouco da trajetória pregressa do protagonista, com o filme se focando quase que exclusivamente no período do desenvolvimento da bomba atômica em Los Alamos, isso que é peça de investigação para uma possível teoria de espionagem realizado por Oppenheimer, que tinha ligações comunistas no passado, de que o mesmo teria fornecido informações para Moscou construir também a bomba nuclear e uma futura bomba ainda mais potente e perigosa, a bomba de Hidrogênio, para a União Sorvietica. Nesse sentido, Oppenheimer se torna o inimigo número 1 do estado, principalmente por conta de Lewis Strauss, que digo aqui, que performance de Robert Downey Jr, sinceramente, após mais de uma década realizando filmes para a Marvel, tem gente que esquece o quão bom ele pode ser no drama, seu personagem foge de tudo que ele entregou nos anos de Homem de Ferro, um ser completamente duas caras, que personifica justamente a figura do estado e do corporativismo, que pode tanto te abraçar como te apunhalar pelas costas, o personagem é contido durante boa parte do filme, mas na cena que a máscara cai e vemos suas reais intenções, é onde o ator mostra o quão bom ele é, aliás, o elenco chega ser surreal, com nomes como Matt Damon, Rami Malek, Emily Blunt, Florence Pugh, Jason Clarke, Casey Affleck, Gary Oldman (quase numa ponta, porém divertidíssimo e quase irônico) só pra dizer alguns, todos bem em seus papéis, não tenho nenhum destaque negativo nisso e o diretor sabe dividir os seus coadjuvantes, afinal de contas, como falei, há dois personagens chave que o diretor explora melhor, num excelente trabalho de edição, que consegue alternar entre situações e personagens sem parecer confusso ou fora de hora.
Oppenheimer quase soa como uma ópera, é um filme denso, cheio de camadas e longo, mais de 3 horas de duração, mas que com performances na ponta do casco e com uma edição que dá muito dinamismo, Christopher Nolan entrega um dos seus melhores trabalhos na sétima arte.
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