Cinemão Br.
O cinema no Brasil é completamente diferente do cinema que é feito nos Estados Unidos, enquanto lá temos uma arte que é voltada muito mais para o entretenimento e concentração de massas, com as mais diversas franquias e propriedades intelectuais, é estranho como num país grande e cheio de diversidade cultural e com milhares de profissionais, o cinema que fazemos aqui ainda continua sendo muito mais um símbolo cultural e de nicho do que algo que transcenda isso, sim, temos algumas raras excessões, mas é curioso de notar o quanto as séries e novelas tem conseguido isso com muito mais facilidade do que as obras para grande tela. Temos um gênero que, muito por conta de legado histórico, lota as salas de cinema que é a comédia, só que isso vai na contramão do que tem acontecido ultimamente em Hollywood, onde todos os gêneros apresentaram significativa melhora em arrecadação, enquanto a comédia virou quase que um subgênero, onde filmes que realmente exploram o gênero, tem sido cada vez menos vistos.
Com essa longa introdução, o que quero dizer é que nosso cinema possue uma dificuldade, não sei se por falta de marketing ou investimentos, de fazer com que filmes além do gênero de comédia, patrocinados pela gigante do entretenimento, Rede Globo, tenham o seu lugar ao sol, porém, devo dizer que isso foi quebrado por esse filme aqui, temos um grandioso investimento, que de fato é visto nas telas (entrarei em detalhes sobre isso daqui a pouco) e o marketing desse filme é absurdo, sendo anunciado em basicamente todas as mídias e redes sociais possíveis aqui no Brasil, numa aposta alta de sua produtora, Joanna Henning e de seu estúdio, a Escarlate Filmes.
A curiosidade por um caso esquecido na nossa história e com um potencial imenso fez com que a fatídica história do Voo 375, na década de 90, conhecido como um proto 11 de setembro, fosse contada através das mãos do Diretor Marcus Baldini, que faz um consistente Thriller de ação, que do inicio ao fim, prende atenção do espectador. A principal inspiração que vejo aqui é o filmaço de Paul Greengrass, "Voo United 93", o qual até o título emprega inspiração, onde temos uma linguagem de filmagem que beira o "found footage", que nada mais é do que uma técnica de filmagem que dá mais realismo e imersao a narrativa, essa que se inicia quando o piloto Murilo (Danilo Ghangheia) chega para sua volta ao trabalho após uma suspensão, injusta segundo ele, no aeroporto do Confins, em Belo Horizonte, temos uma rápida apresentação de sua família e de equipe de bordo, que dá um toque quase que documental ao longa, alguns dos passageiros, que seram importantes a trama também são apresentados, entre ele, o instável e problematico Nonato (Jorge Paz), que perdeu o emprego após os planos desastrosos do então presidente José Sarney e decide sequestrar o avião e joga lo em cima do palácio do Planalto como forma de vingança.
O longa tenta ensaiar um discurso político, mas ele é pouco explorado no longa como um todo, apesar de ser o estopim da trama, ele é muito mais um plano de fundo do que algo desenvolvido, o que considero um caminho correto, pois deixaria a trama massante e enviesada ao extremo, esse não é o objetivo, esse é marcado pela relação conturbada e caótica desenvolvida entre Murilo e Nonato, o filme da palco para os dois e ambos dão show aqui, o sequestrador, um personagem extremamente volátil e de mentalidade pouco reflexiva e o piloto que tem que batalhar, com muita inteligência e sagacidade, pela própria vida e de sua tripulação. Ainda temos uma terceira via aqui, a negociadora vivida por Roberta Gauda, que recebe um certo destaque na trama, apesar do papel recorrente de "orelha", que nada mais é que um personagem que o roteiro utiliza para explicar e tornar a história com momentos expositivos. Considero que a escalação de elenco é primorosa, pois não temos atores protagonistas conhecidos do grande público, o que garante ainda mais o realismo que o longa pretende se desenvolver, temos um ou outro rosto que é conhecido das novelas, mas são atores que compõe a trama, com pouco destaque, o que encorpa o elenco.
Os efeitos especiais estão bem feitos e estão no nível que se esperam, a produção é bem elevada em termos de investimento, tendo pego três aviões inteiros para gravar as cenas, a direção de arte merece destaque, pois além de tornar tudo condizente com a realidade, tem muita atenção aos detalhes.
O Sequestro do Voo 375 é uma grata surpresa do cinema nacional, torço muito para que o filme tenha um resultado expressivo nos cinemas, para que cada vez mais, hajam mais obras com grande investimento que vemos aqui.
Nota: 8,5/10
O filme é tão sensacional quanto essa crítica! Parabéns pela visão. Assisti o filme e também recomendo! Alias, parabéns pelas críticas de outras obras também. Vôa mermão!