Juntos e Shallow now
A trama de Nasce uma Estrela é quase que atemporal, digo isso por que esse filme na verdade é a quarta versão da história no cinema, pra você ter uma noção, o primeiro filme data da década de 30! Isso, não estou errado, passando por versões nas década de 50 e 70, por que estou falando de decadas e não de datas? Por que é bem simples, essas versões, em suma, são representações de cada época, a história é estruturalmente a mesma, porém, cada filme consegue puxar certos temas e construções que estão acontecendo em sua geração, já que a principal temática da história, a ascenção de um artista enquanto o outro cai subitamente em desgraça por problemas pessoais é sempre algo atual, sempre vemos isso e teremos coisas assim no futuro, é o ciclo do Showbiz, por mais que seja feliz para alguns e tristes para outros.
Nasce uma Estrela é dirigido por Bradley Cooper e narra a história clássica dos três filmes, enquanto vemos o artista Jackson Maine (interpretado pelo diretor), um cantor country com problemas de alcoolismo, cada vez mais sendo sobrecarregado e vencido por seus problemas pessoais, mas que tem um surgimento de uma esperança quando conhece Ally (Lady Gaga), uma jovem que entercala sua rotina de trabalhadora num restaurante com sua carreira de cantora na noite. Nitidamente apaixonado após vê lá cantando num bar, o cantor oferece a jovem a chance se de se juntar a sua turnê e acompanhamos, a partir daí, sua ascenção no mundo do showbiz e a paixão dos dois florescer.
Eu não sou muito fã do gênero romance, porém, o que me chama atenção aqui é que assim como um outro filme parecido que gosto muito "Jonny e June" (o qual prefiro muito o título original "I walk the line" por que de fato vende mais o que o filme é) é justamente todas as facetas de um relacionamento, sim, é muito bom estar apaixonado, ter alguém que ame e se importe, mas, ao mesmo tempo, quando acaba a fase de ardência e entra o convívio, o contato diário e as responsabilidades, tudo muda, é aí que vem as discussões, o ciúme e as reclamações, gosto muito do fato que o filme toca nisso, fazendo parte primordial da narrativa, como se o filme, cada vez mais, espremesse seus personagens principais, confinados por uma paixão que é problemática, porém verdadeira e sincera, mas é difícil corresponder as expectativas do outro e ser o que a outra pessoa quer, todos nós temos nosso próprio histórico, a criação é diferente e isso o roteiro aborda com maestria, demostrando como esse fator pode afetar uma pessoa a longo prazo, ainda mais quando uma dependência química entra no jogo.
Bradley Cooper está brilhante como Jackson, o ator, que até antes de se aventurar em dramas como Sniper Americano e Trapaça, era apenas um ator de comédia conhecido por algumas comédias românticas e pela trilogia "Se beber, não case", convence aqui como esse cantor preso a relacionamentos do passado, seja por conta da criação do seu pai, um alcoólatra que, ao que parece, deu de herança três coisas para o filho, um terreno qualquer no meio do nada, seu amor pela música e seu vício em álcool, algo que escala pras coisas muito piores, o personagem é dramático e o coração do filme, carregando todas essas relações passada para seu relacionamento com Ally, o que começa a causar problemas. Assim como as versões anteriores do filme, ele é a pessoa a ser salva, pra isso, além de sua parceira de romance (a qual falarei mais daqui a pouco) que serve como uma espécie de bússola moral para o personagem, temos aquele que serve como sua voz da consciência, alguém que está ali apenas para evidenciar e avisar sobre os caminhos que o personagem vem lidando e Sam Elliot como Bobby Maine faz isso com maestria, não foi atoa sua indicação como melhor ator coadjuvante no papel, suas participações são curtas no longa, porém o ator compensa com uma atuação de alto nível, rendendo, na minha opinião, as melhores cenas do filme.
Mas o filme cairia por terra se não tivesse uma parceira a altura de Cooper, e a senhorita Sthefani Germanota (Lady Gaga para os íntimos) faz isso com louvor, a atriz, compensa até uma certa falta de atuação (o que melhora bastante ao decorrer do filme), muito disso por conta de ser básicamente seu primeiro papel no cinema, com uma performance musical brilhante como sempre num papel que parece ter caído como uma luva para ela, a personagem tem certos pontos parecidos demais com a cantora (não pense que a cena que ela canta num bar LGBT+ está ali só por estar), o que torna sua atuação mais fácil, porém cheia de camadas, o fato da mesma conforme vai subindo na fama, ter que abrir mão da sua própria personalidade e visual para adotar um figurino "exótico" é parecido demais com a carreira da cantora, que assim como no filme, precisou disso por conta do mainstream considera la com aspectos faciais "diferentes" para o padrão, fazendo uma crítica de como a indústria funciona, ja que apenas o que foge do padrão é um nariz considerado grande, são coisas parecidas com um outro filme que gosto bastante, 8 mile com o também cantor e rapper Eminem (farei crítica desse um dia, prometo).
Eu me arrependeria demais se não abrisse um parênteses falando da trilha sonora e das performances musicais do filme, ambos Bradley e Lady Gaga arrebentam, entregando composiçoes e performances físicas excelentes, a construção que o filme faz de sua música tida como principal "Shallow" é muito bem feita, além da composição de fato ser um retrato verdadeiro dos dois personagens, me fazendo odiar mais a música que Luan Santana e Paula Fernandes fizeram (sim, citarei o meu ódio por essa música toda vez que possível, apesar de não ter nada contra e até gostar de algumas músicas dos dois, sendo sincero) e a música final "I'll Never Love Again" é bastante melancólica, tendo a narrativa do filme como comparação.
Nasce uma Estrela é o retrato de como nós, seres humanos somos influenciados pela música e pelo sucesso, é o retrato de como esse segundo fator pode nos fazer sucumbir, esquecermos de quem somos de verdade, porém a arte, representada aqui pela música, pode nos conectar de uma forma sincera, ainda mais se isso for a nossa paixão, um filme que ganha mais camadas se você ja passou de um certo estágio do relacionamento do que se estiver no começo, vale a pena assistir.
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