Exemplo de como fazer um spin off
Muitos spin offs tem saído nos últimos anos, numa Hollywood cada vez mais desesperada pelo retorno financeiro sobre a originalidade, então, explorar comercialmente uma franquia, criando derivados, tem sido uma pratica cada vez mais comum, numa manobra que mina, muita das vezes, a venda de uma ideia nova, pois a mesma, muita das vezes, precisa ja ser concebida com pensamento de bolar nos produtos, sequências, spin offs, séries, um universo compartilhado e afins.
Pensando nisso, seria improvável que a franquia Jogos Vorazes, uma das mais célebres do gênero Jovens Adultos, não recebesse uma reativação, muito se falava numa sequência dos 4 filmes, porém, quando Suzanne Collins, a autora da trilogia literária e participante ativa do roteiro das adaptações lançou o livro A Cantiga dos Passaros e Serpentes em 2020, trilhou se o caminho que a franquia deveria caminhar, numa história que volta mais de 60 anos no tempo, contando a história inicial do grande antagonista da trama, o presidente Coriolannus Snow.
Mas o filme nao se atem a apenas ser uma história de origem, aqui na trama, Snow, que é interpretado por Tom Blyth, é escolhido para ser mentor de participantes da décima edição dos Jogos Vorazes, o game sangrento com adolescentes, que após algumas edições de sucesso, vem de um certo ostracismo graças a falta de criatividade e o pessimo marketing que torna os jogos pouco atrativos, a jovem que é direcionada pra Snow, a jovem Lucy Gray (Rachel Zegler), o qual forma uma parceria que, durante os períodos dos jogos, fazem ambos evoluírem e que, após o jogos, formam lembranças que seguem na vida dos dois.
O roteiro escrito por Michael Arlete, Michael Arndt e com supervisão da criadora da obra é centrado na relação entre os protagonistas, que demostram ter muita química desde a primeira interação, o que é essencial para os momentos dramáticos, Tom Blyth recebe um sapato grande para calçar, pois simplesmente faz a versão mais jovem de um personagem interpretado por talvez, um dos melhores atores de sua geração, o grande Donald Sutherland, que interpreta muito bem toda a maquiavélisse que Coriolannus demostra nos livros, um personagem extremamente complexo que Blight da uma boa performance, seu personagem evolui muito do começo ao final da trama, quase sendo outra pessoa por comparação, muito pela influência da doutrina opressora e fascista da Capital, além da influência de Lucy, Rachel Zeagler também tem uma montanha grande para percorrer, pois as comparações com uma ganhadora do Oscar, Jennifer Lawrence, que foi protagonista dos 4 filmes antecessores seriam inevitáveis, porém, o roteiro é muito inteligente em relação a isso, elaborando uma personagem que, apesar de lembrar um pouco a Katniss de Lawrence, pelo jeito impulsivo e até um pouco arrogante em alguns momentos, consegue caminhar com as próprias pernas, sendo uma personagem muito interessante.
O filme tem muitos acertos, a direcao de arte lembra uma versão quase que retro da Panem que vemos na franquia principal, a direção de Francis Lawrence, que dirigiu três dos últimos filmes também é muito segura, o diretor entende o mundo ficcional em questão, elaborando as cenas e jogos de câmera de uma forma bem orgânica e criativa.
Temos atores coadjuvantes muito bons aqui, num casting que não deve em relação ao que veio antes, que encorpava demais o elenco, porém não consegue ter um coadjuvante memorável, o que mais se aproxima disso é Josh Andres Rivera, que interpreta o melhor amigo de Snow, Sejanus Plinth, o qual o roteiro o utiliza como coração dramático de toda a temática e discussão que o filme quer introduzir, o resto do elenco está bem operante, porém, para começar a falar das coisas que me incomodaram, quero dizer que a personagem Volumminia Ghaul, interpretada prla grandiosa Viola Davis, uma atriz de alto calibre, que é relegada a um arquétipo de cientista louca, o qual reduz bastante a atriz.
Dito isso, vamos começar a malhação? Mentira, não tenho tanta coisa que me incomodou, porém, é um seguimento bem longo do filme que são os jogos em si, se os primeiros dois filmes propusseram um ecossistema de uma floresta, grande e cheia de coisas acontecendo, aqui tudo é relagada a uma pequena arena, com muita repetição de ideias, conveniências narrativas e de situações, é um longo trecho do filme, que ele cai drasticamente de qualidade, porém, o foco do filme não é o jogo, é a relação entre o casal principal, retomando isso após esse grande trecho e melhorando a qualidade da trama. Outra coisa que me incomodou foram os efeitos especiais do filme, que não justificam o investimento, temos cenas de cutscene dignas de PS2, com um fundo verde aparente, ainda bem que são poucas cenas.
Jogos Vorazes: A Cantiga dos Passaros e das Serpentes é um ótimo spin off, que não se preocupa apenas com a reativação da marca, mas a contar uma história, com começo, meio e fim, que apesar de abrir margem para uma sequência, o diretor Francis Lawrence conhece o material que tem na mão e o trabalha de forma muito satisfatória, mesmo que com alguns deslizes.
Nota: 7.5/ 10
Comments