EUA vs Italianos
Na década de 60, a Ferrari, fundada pelo genial e controverso Enzo Ferrari nos anos 40 vivia o ápice de seu sonho automobilístico, acumulando diversos campeonatos mundiais, entre o Endurance, que são as corridas de longa duração e os monopostos, com o maior destaque sendo os títulos de equipe e pilotos na Fórmula 1, a Scuderia Ferrari, o braço de competição da marca, ja era naquela época, sinônimo de corrida, o Rosso Corsa ou "Vermelho de Corrida" empregado pela equipe do cavalo preto sendo uma das cores mais icônicas da história, tudo que remetia a Ferrari remetia a sucesso, nas pistas, pois financeiramente, as coisas eram completamente diferentes, pois os esportes a motor não eram de lucros tão bilionários igual vemos hoje, era muito mais um esporte de coragem, onde pilotos sentavam num cockpit e não sabia se levatariam e o prêmio, a glória máxima do esporte, era muito mais uma questão de marketing do que necessariamente lucro.
E aqui estamos no filme dirigido por James Mangold, que buscar explorar justamente essa questão do homem x corporação, pois a história de passa durante a preparação da lendária e apoteótica vitória da americana Ford nas 24 horas de Le Mans, numa década que até então, vinha sendo dominada pela Ferrari, uma escuderia completamente manufaturada, onde os carros eram tratados mais como obras de arte capazes de passar dos 300 km/h, lideradas por um sonhador e competitivo igual Enzo Ferrari contrastando contra a gigante Ford Motor Company, que revolucionou o mercado automotivo justamente fazendo o contrário da Ferrari, lançando uma produção em larga escala, onde o elemento humano era mais um supervisor do que alguém criativo, onde o trabalhador tinha que apenas que seguir uma linha de montagem e ser uma peça da grande engrenagem dos milhares de carros fabricados todos os anos.
O filme pega essa questão do Fordismo x Scuderia para colocar o conflito do filme em prática, eu falei da parte comporativista da trama acima, mas a parte pessoal precisa da explicação dessa parte burocrática para fazer sentido, na trama temos Thomas Shelby, vivido aqui pelo excelente Matt Damon, um ex piloto e que agora é montador de carros ao estilo de Enzo Ferrari, que é embuido pela Ford a criar um carro capaz de ser uma grande peça de marketing da área de corridas da Ford, para ganhar as 24 horas de Le Mans, o mais irônico disso tudo que esse objetivo da Ford só ocorre graças a recusa de Enzo Ferrari em vender a Ferrari para a Ford, pois o mesmo não acreditaria que teria autonomia, um prelúdio do que aconteceria com Shelby durante todo o filme, isso que é externado pelo grande coração do filme, Ken Milles (Christian Bale), o personagem caipirao e quase sem nenhum finesse representa o elemento humano em relação ao corporativismo, pois o mesmo, apesar de ser peça fundamental na construção do carro, na parte física da coisa, é relegado a escanteio durante toda a trama pelos engravatados do Marketing. Nós, trabalhadores, somos apenas números numa planilha para as empresas, isso é constantemente lembrado pelo filme e é uma crítica ao capitalismo e ao corporativismo que o filme faz de forma precisa.
Para mim os pontos negativos dos filmes são a omissão que ele faz de figuras históricas importantes para o momento em questão, mas a quase omissão em apresentar pilotos da época, até figuras como Bruce McLaren, Dennis Hulme e Chris Amon, que participaram ativamente para a vitória junto de Ken é quase um desserviço do ponto de vista da história do automobilismo, além disso, o filme faz algo terrível em pintar tudo que aborda a Ferrari ao estilo filme de máfia, como se Enzo Ferrari fosse um vilão por assim dizer, quase sem nenhum desenvolvimento, é ultrajante, colocando o filme como o mais americanizado o possível.
A direção de arte é muito boa, porém, em relação ao design de carros, sinto uma falta de diversidade, pois todos parecem os mesmos, só diferenciados pelas cores, outro aspecto que devo ressaltar é a trilha sonora, numa pegada quase retro, misturada com batidas um pouco mais atuais, a trilha de Março Betrami e Buck Sanders exala adrenalina e velocidade.
Ford vs Ferrari é talvez um dos melhores filmes sobre automobilismo já feitos, o grande conflito central, o do elemento humano vs o elemento corporativo permeia todo o filme, sendo algo recorrente na carreira de qualquer pessoa que sonha em dirigir automóveis para sobreviver ou que simplesmente seja apenas um fã, o filme consegue, apesar de omitir algumas coisas, engajar o expectador na luta de Carrol Shelby e Ken Milles, que na verdade se torna contra a Ferrari e contra a própria Ford também, um filmaço.
Nota: 9,0/10.
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