O homem, suas invenções e sua cobiça.
O Comendador Enzo Ferrari, cujo sobrenome é atribuído a talvez maior marca de carros esportivos do mundo, sempre foi um homem muito controverso, no aspecto humano claro, pois seus carros, maravilhas da tecnologia independente da época que forem fabricados, são de um grau indiscutível de qualidade, mas quando voltamos as suas relações pessoais, vemos um homem muito frio, prático e que não tinha muita empatia para com os outros, seu único desejo era o de vencer, a vitória era muito mais do que uma realização pessoal, era necessária, já que sua escuderia fazia o trabalho para domingo, dias de corridas, para que seus engenheiros e mecânicos fizessem num trabalho manufaturado, os carros para serem vendidos na segunda, um depende do outro e isso se dá até os dias atuais.
O filme do diretor Michael Mann, um já consagrado realizador, que dirigiu obras primas como Dança com Lobos, Fogo contra Fogo, Colateral e etc... Que volta a cena após um hiato de quase dez anos com o irregular Hacker (2015) para narrar a história do homem por traz de uma marca tão vitoriosa.
Mann quer tratar aqui muito mais do lado humano e falho de Enzo Ferrari do que oferecer um filme esportivo, não me leve a mal, temos cenas de corridas aqui, porém, elas são apenas plano de fundo, para tratar das relações conturbadas e frias que Enzo tem com todos os personagens com quem interage. A principal dela sendo com sua esposa, Laura, interpretada de maneira fantástica por Penélope Cruz no filme, a atriz carrega um olhar cansada e sobrecarregado, que a da uma performance dramática no ponto para a personagem, alguém que já está cansada do modo como o marido a trata, das noites fora de casa do mesmo, da paixão maior ao esporte do que a mesma, como se a todo momento, procurasse uma maneira de simplesmente sumir dali, Penélope é uma atriz de alto calibre e demostra isso aqui, pareada com uma ótima atuação de Adam Driver, para os que tiveram traumas do sotaque do mesmo em Casa Gucci, aqui ele faz uma atuação muito mais contida, porém cheia de nuances.
O filme se divide entre as relações pessoais de Enzo e seu amor e dedicação pelo automobilismo, no campo automobilístico, temos ótimos atores coadjuvantes, incluindo Patrick Dempsey e Gabriel Leone, o ator brasileiro que inclusive tem um bom destaque na trama, sendo o personagem que muita das vezes, é o coração do filme em mais uma ótima atuação da jovem estrela nacional, mal espero para vê lo na série já anunciada sobre a vida de Ayrton Senna, o que ele recebe o papel principal, mas para mim, o grande calcanhar de Aquiles do filme é Shailenne Woodley como Linda Lardi, a principal amante de Enzo na história e mãe de seu herdeiro ilegítimo, a atriz parece deslocada e se comparada aos demais, parece sempre um pouco atrás, falo isso por que já vi trabalhos muito melhores de sua parte.
O roteiro do filme é bem estruturado, apesar de pecar um pouco pela repetição, o trabalho de adaptação do livro Enzo Ferrari: O homem e as máquinas, de Brock Yates é bem conciso, ao tratar de um recorte da vida de Enzo, um período até que curto de tempo, mas que mostra e muito, do homem que o personagem principal é, sem aquela fórmula batida de cinebiografia.
Nos aspectos técnicos, o filme é deverás escuro, quase todo ele filmado numa luz natural, que dá um charme a trama, mas tira um pouco do brilho e das cores do carros, mas combina com a temática um pouco mais sombria da trama, a direção de arte e figuro retratam bem a época, mas se tem um elemento que merece ser duramente criticado é o CGI do filme, é muito mal acabado, a física quase que inexiste, parece que fizeram nas pressas, aliás, posso dizer uma coisa, por favor, dêem mais tempo para os profissionais de efeitos especiais, pois ultimamente parece que regredimos nessa área.
Ferrari é um filme que trata sobre a figura humana de um gênio, complexo e cheio de camadas, aqueles que vão ao filme apenas para ver corridas e acidente espetaculares, talvez fiquem decepcionados, mas quem vai para assistir um drama com atuações muito boas, é uma boa pedida.
Nota: 7,5/10.
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