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Foto do escritorHelder Fernandes

Distrito 9 (2009)

Se colocando na pele do outro (literalmente).


A única maneira para entender a África do Sul de hoje é estudando o que foi o período do Aparteid, uma política que pregava a segregação entre os africanos descendentes de europeus, que se autoproclamam como "Africanders" e os negros oriundos das mais diversas etnias do país, que foi corrigida atraves de muita luta, uma política extremamente racista e que deve ser abolida de qualquer sociedade.


Com isso, entendemos um pouco da proposta de Distrito 9, filme dirigido por Neil Blunkamp, um diretor que, ao lançamento do filme, era extremamente promissor e do grande Peter Jackson, diretor da trilogia Senhor dos Anéis (vamos fingir que o Hobbit foi apenas um delírio coletivo) que produz aqui, dando todo o estofo que a produção precisava, pois, Neil era um iniciante no mainstream a época. Partindo da história do Aparteid que contei acima, temos uma trama que pega, de uma certa forma, fatos dessa história e os coloca, através de alegorias na trama, algo muito bem feito pelo roteiro, pegando o seu protagonista para ser esse elo entre os dois mundos da histórias, figurativamente e literalmente.


Na trama, que se passa na África do Sul, temos a história de Wikus van der Merwe (Sharlto Copley), um burocrata atribuído da retirada de alienígenas conhecidos como "Camarões", que estacionaram com uma nave espacial em Johanesburgo e que foram acomodados numa espécie de favela, conhecida como Distrito 9 para um campo de refugiados, fora dos olhares da população, alguns eventos inexperados acontecem e Wikus se vê, aos poucos, sentindo na pele os efeitos da segregação e da xenofobia humana, começando a ajudar os alienígenas a se rebelarem. O interessante do filme é a forma que ele é contado, com câmera na mão, com uma estética quase documental, da a sensação de intimidade e realismo a trama, não temos imagens belíssimas aqui, tudo é muito cru, sem finesse e com uma trama quase que inteiramente focada no seu protagonista, tanto que muita das vezes, quando o mesmo não está em tela, pessoas estão falando dele, dando ainda mais destaque para Wikus, que é aquilo que as pessoas chamariam de um "paspalho", ele é atrapalhado, com um humor esquisito, de aparência bem genérica e sem brilho, o que nos trás a ideia de que ele simplesmente só está ali por conta da ligação que possui com o chefe de toda a operação, que é o seu sogro Piett Smith (Louis Minnar) diria mais, que a vida dele pouco importa para o executivo, o que fica ainda mais evidente com os eventos da narrativa, Wikus parece alguém extremamente alienado e sem pessoas que de fato tenham algum apreço pelo menos, as declarações de pessoas que falam sobre o mesmo durante os primeiros minutos do filme parecem genéricas, sem qualquer senso de empatia e carinho, algo necessário de quando quer se falar de alguém querido, o que definitivamente não é o caso.


Todo o tema da trama é focada na descoberta da empatia, pois só se sabe o que o outro passa se colocando na pele do mesmo, passando por aquilo, é impossível saber as dores, recentimentos e perdas quando você nunca passou por aquilo, tentar entender outro e ter empatia é algo que fica apenas no campo das ideias, da suposição, isso que a trama aborda e leva, de forma literal, a risca, é um dos melhores sci fi que vi nos últimos anos e continua sendo atual, com diversas crises de refugiados ocorrendo no mundo, a xenofobia e racismo que ainda, infelizmente, estão ocorrendo, Distrito 9 é um filme importantíssimo, desejo muito que se diretor volte aos trilhos, pois a experiência proporcionada aqui é muito forte e precisa.

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