Um marco cinematográfico
É interessante notar como todos os seguimentos daquilo que chamamos de arte (que deixaremos a discussão sobre o que é ou não arte para outro tópico) temos produtos que são aquilo que chamamos de "quebra de paradigma" que é quando podemos facilmente classificar como um produto artístico em que há um antes e depois dele, seja a Monalisa de Da Vince, a Odisseia de Homero, a HQ Cavaleiros das Trevas de Frank Miller, no cinema, na nossa querida nobre arte temos obras maravilhosas, mas poucas impactam tão pouco o público como uma sessão de Poderoso Chefão, dirigido pelo mestre Francis Ford Coppola e baseado na obra homônima de Mário Puzzo, que conseguiu a proeza de dirigir duas obras primas do cinema (o primeiro e o segundo filmes) em tão pouco tempo. Falar sobre os aspectos técnicos e narrativos da obra é chover no molhado, eu não tenho capacidade de falar algo novo, já que, durante os mais de 50 anos que a obra foi concebida, ela já foi destrinchada e analisada por inúmeros mestres e intusiastas pelo cinema, não seria a minha pessoa que acrescentaria algo no verdadeiro panteão de lendas que já analisaram o filmes, considerado por muitos, o melhor filme de todos os tempos, mas o que queria propor aqui é um exercício emocional, passar sobre a minha sensação sobre a obra, o que é legal, se imaginarmos que poucas pessoas iram ler sobre isso e que isso aqui pode servir apenas como um diário, um testemunho da grandeza do filme.
Logo nos primeiros minutos, toda aquela cena da festa do casamento, apesar de ser longa para alguns, introduz tudo aquilo que o espectador precisa saber para gostar do filme, a trama épica, porém com subtextos familiares, tais quais as grandes "tragédias" clássicas, texto que remetem lá da Grécia antiga, com brigas palacianas e uma trama de sucessão, que é uma obra de arte apenas por ela mesma, a trajetória de Michael Corleone (Al Pacino, que dispensa apresentação) é feita com maestria, desde o começo, em que vemos um jovem sonhador, inocente e pouco interessado com os negócios da família, capitaneada por um estelar Dom Corleone (Marlon Brando), escondido pelas penumbras de sua sala no começo, realizada pela fotografia de um gênio, Gordon Willis, na cena que já nasceu clássica e antológica (como não lembrar de "Eu acredito na América..."), o personagem em si é a representação da família, um pai zeloso que ao mesmo tempo é um líder que busca o diálogo, porém implacável na hora de agir, sendo interessante como Michael se perde no processo, por que, ao mesmo tempo que ele fica implacável como seu pai, ele começa a deixar de lado a sua família, ao perder sua inocência na morte de sua primeira esposa no decorrer da trama, chegando ao seu ápice, na cena de seu "batismo" como agora Dom, quando ele demanda o assassinato de todos os outros chefes da máfia, antes que os mesmos lhe façam algo, ele se torna um monstro, um ser profano, justamente por receio que ocorra alguma, se tornando juiz, júri e advogado de uma sequência de eventos que o torna o chefe supremo de toda a máfia americana.
Poderoso Chefão é uma maravilha da sétima arte, em todos os aspectos técnicos, daqui cem, duzentos, mil anos... Quantos anos se passarem e ainda houver sociedade humana civilizada, esse filme será o marco do cinema, sendo perfeito em todos os aspectos técnicos (perfeição é relativa, mas quando você olha para uma obra e não consegue achar nenhum defeito, nada que poderia mudar, creio que isso signifique a perfeição, correto?), uma obra atemporal, que trata sobre a ascenção, desenvolvimento e queda moral de um dos melhores personagens já escritos, vale muito a pena assistir e rever, principalmente com um vinho do lado, saboreando lentamente, pois a longa duração da obra exige paciência e relaxamento, para testemunhar uma obra única.
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